A que você atribui seu sucesso ou fracasso?

Yesterday I was clever, so I wanted to change the world. Today I am wise, so I am changing myself.”

Rumi (1207-1273)

Em 1966, o psicólogo Julian B. Rotter cunhou o termo lócus de controle, visando identificar a que fatores as pessoas atribuem seus sucessos ou fracassos. Segundo Rotter, as pessoas variam em um espectro entre dois polos. Em um deles encontram-se as pessoas com o lócus de controle predominantemente interno. Estas são pessoas que acreditam que grande parte do que acontece em suas vidas é resultado de suas próprias ações. No outro extremo, as pessoas com um lócus de controle externo atribuem os acontecimentos de sua vida a fatores que estão completamente fora do seu controle.

De acordo com uma série de pesquisas que surgiram desde o estudo de Rotter, conclui-se que pessoas com um lócus de controle interno têm uma saúde melhor, são menos depressivas e menos ansiosas. Não vejo como poderia ser diferente: se você assume responsabilidade pela sua vida, você tende a se alimentar melhor, fazer exercícios e a não abusar de substâncias. Você se sente capaz de mudar as circunstâncias de sua vida e está aberto a essa possibilidade. Se por outro lado você acredita que os seus esforços são inúteis, por que se empenhar?

O relato de Viktor Frankl, sobrevivente do Holocausto e fundador da Logoterapia, ilustra bem os benefícios de se ter um lócus de controle interno. Frankl percebeu que o que definia a sobrevivência na situação extremada do campo de concentração era a capacidade de preservar algum senso de liberdade e propósito, mesmo que interno. Se ele não podia controlar a barbárie a que era submetido, ao menos tinha a possibilidade de controlar a sua resposta.

Quando eu vivia num dos campos de concentração da Alemanha nazista, pude observar que alguns dos prisioneiros andavam de barraca em barraca consolando outros e distribuindo suas últimas fatias de pão. Podem ter sido poucos, mas me ensinaram uma lição que jamais esqueci: tudo pode ser tirado de um homem, menos a última de suas liberdades — escolher de que maneira vai agir diante das circunstâncias do seu destino. 

Viktor Frankl (1905–1997)

Por milhões de anos, os hominídeos estiveram completamente a mercê de uma natureza indomada. O homem, este animal desajeitado e esquisito, perde pra qualquer animal do seu tamanho em uma luta mano a mano. Pergunte ao que restou das pessoas que tiveram a ideia de ter um chimpanzé de estimação.

Se hoje o homem é o grande tirano da natureza, na maior parte do tempo fomos animais assustados que subsistiam de frutinhas, insetos e pequenos animais. Presas fáceis de predadores cruéis. É uma história que está codificada na dureza do Antigo Testamento, que mostra um Deus que não se inibe em punir sua estimada criação a cada vacilo da raça humana.

Os bebês humanos sinalizam instintivamente sua condição indefesa. Seu choro provoca uma reação que diminui a agressividade dos seus pais, sobretudo os homens. Para sustentar o longo período de amadurecimento dos filhos, é necessária uma compaixão com o bebê por parte dos pais e um choro desamparado por parte dos bebês. Estamos programados desde o nascimento para o papel de vítima indefesa e, por isso, é tão fácil cairmos nesta armadilha.

É notório o crescente esforço de diversos setores para propagar uma conscientização guiada, uma visão crítica do mundo que informa que o jogo está armado e que não há saída. Segundo essa visão, a conjuntura externa não nos dá outra opção senão o fracasso. Isso faz com que pessoas que já têm motivos para se vitimizar sejam incentivadas a externalizar ainda mais seu lócus de controle.

É evidente que qualquer tipo de esforço faz uma diferença positiva na vida das pessoas e é por este motivo que a classe que trabalha pesado e ganha pouco geralmente não compra a ideia de mudar o mundo. Eles têm uma boa noção do que aconteceria se desistissem do mundo real e, portanto, têm uma desconfiança saudável da propaganda. Quanto aos que podem se dar ao luxo de serem ativistas, é importante que não esqueçam da autonomia e responsabilidade que tem para o êxito deles mesmos, suas famílias e comunidades.